Muriçoca Mágica na Favela

Era uma vez um hábil político burguês
Que no meio de sua campanha eleitoral foi picado por uma muriçoca mágica
E, como por encanto, passou a falar nada mais que a verdade
Pela primeira vez cumpriu seu slogan de campanha que dizia:
eu tenho compromisso com a verdade!
E na subida da favela entre botecos, batuques, esgoto e muito sangue
Ele começou a falar nada mais que a verdade.
Aí ele falou assim:

Bom dia meu povo eu vim aqui pra mostrar meus planos de empresário empreendedor.
Minha proposta é um caveirão supersônico pra diminuir a população
Estes ao meu lado são os meus correligionários, empresários, assassinos, patrocinadores de eleição.

Venham por aqui catinguentos
Vamos revitalizar com glamour estes becos
Neon global precários, empregos licitações fraudulentas pro meu império.

O povo incomodado começou a chiar
Com a sinceridade cidadã
Desesperado o candidato tentou retrucar
Sou empresário, meu irmão!

Aguardo ansiosamente a próxima chuva de verão
Minha empreiteira tem planos de investimento puro
Cemitério de pobres e um condomínio de luxo

A massa se enfureceu
Pedras e garrafas a céu aberto
A chapa esquentou
Os seguranças suam frio
O candidato é o Judas sincero

A comitiva correu, catando cavaco no chão.
Os morteiros jovens gritam
E o movimento na zoação
O linchamento se fez
E a porrada comeu

O espetáculo de TV
A lan house era o centro de informação do inferno
O julgamento aconteceu
Quem dera que todos os candidatos fossem tão sinceros.

A barricada se desfez
A favela voltou ao sossego
Os jornais fazem novela com medo
Muriçocas hão de tomar o céu
E a favela tornará inimigo e réu

O candidato burguês esperto
Guerra ao burguês quieto
Guerra ao burguês solidário
Guerra ao burguês operário
Guerra ao burguês preto
Guerra ao burguês branco
Guerra ao burguês santo
Guerra ao burguês candidato.
Guerra ao burguês candidato.