Um Chamamé De Fronteira

Anomar Danubio Vieira / Luciano Maia

Te abre, gaita pachola
Num compasso correntino
Que este teu jeito teatino
Traz um verso a bate-cola
Leva os cravos das esporas
Na paleta do destino
Que o teu ronco é o próprio hino
Deste povo que te adora

Quando a poeira enreda os olhos
Num chamame de fronteira
Se alvorota a sala inteira
No panejar do meu pala
A china linda embuçala
Um coração mal domado
Num sarandeio carteado
Ao som da gaita baguala

Que parece criar asas
Nas mãos do chamamecero
Por supuesto bom gaiteiro
De sotaque espanholado
Neste trancão despachado
Invade a noite sulina
Do Uruguay ou da Argentina
Traz amor contrabandeado

Gaita potra roncadora
Pelo grotão das hilheiras
Desfilam aves cantoras
E o vento das cordilheiras
Tens o calor de um fogão
Atiçado deste vento
E o mais puro sentimento
Das coisas do coração

Quebro o cacho da saudade
Domingueando um bem-querer
Pois me gusta entretener
A lembrança que me atrai
De um sonoro sapucai
Que abre o brete da garganta
Num retoço de bailanta
Nas barrancas do Uruguay

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