Raça Baguala
Peço licença meu povo, uso de linguagem pura
Fui criado no interior, e tenho pouca cultura
Por ser de família pobre, sempre levei vida dura
Quando eu chego o povo fala: Vejam que raça baguala
A fina flor da grossura
Sou grosso por natureza, pouco entendo de finura
Meu dialeto é campeiro, comigo não tem frescura
Não compro gato por lebre, corvo por galinha escura
Pouca coisa não me abala, eu sou de raça baguala
A fina flor da grossura
Canto e toco porque gosto, e o povo não me censura
Dizem que o grosso está solto e que ninguém mais segura
Anuncio o novo dia para gerações futuras
Meu verso na mente estala, eu sou de raça baguala
A fina flor da grossura
Pouco conheço tristeza, males que meu verso cura
Sei que tenho meus defeitos, mas não sou má criatura
Pouco sobrará de mim se tirar minha tortura
Vindo me enrolar se rala, eu sou de raça baguala
A fina flor da grossura
Patrão da estância maior, mande saúde e ternura
Pra este povo buenacho que me aplaude e me atura
Minha cantiga de grosso espero que esteja a altura
Por sermos da mesma ala, e eu ser de raça baguala
A fina flor da grossura