De um Tempo Que Se Foi
Estância antiga que outrora foi destino,
Hoje é memória, de um tempo que se foi
Campos de trevo, mananciais e pasto fino,
Taipa de açude, firmada a casco de boi.
Rincão crioulo Berço da arte campeira
Que vem da terra, do sangue e da vocação,
Quem foi forjado, a barro e pó de mangueira
Mesmo que queira, não esquece a tradição.
Chapéu tapeado, bombacha, bota e espora,
E a cavalhada acostumada ao relento,
Laço nos tentos, pra um pealo campo afora
Pra ver a armada pelo ar cortando o vento.
Das campereadas, por canhadas e coxilhas,
O campo aberto, a sensação de liberdade,
Marcaram um tempo de rodeios e tropilhas,
E abriram trilhas que cruzei na mocidade.
Guardo a lembrança, do mate e da parceria,
Da melodia, que entoa o rangir do Basto,
Acho que a gente era feliz e não sabia,
No dia a dia, no rigor do campo vasto.
Mas, esse tempo com o passado se perdeu,
Quando pra sempre a porteira se fechou,
E a velha estância da fronteira emudeceu
Como uma flor do outono que desfolhou.
Assim estancias vão sumindo, ano a ano,
Já não se fala em léguas de sesmaria
E o campeiro se transformando em urbano,
Na esperança que a vida melhore um dia.
E como sempre, uns dão certo e outros não,
Longe do fogo galponeiro, na cidade
Ao perceber que é só mais um na multidão,
Lembra do chão, de onde veio, com saudade.