A Voz do Tempo
No meu tempo de mocinho
Eu carregava muita ilusão
Morava numa fazenda
E ali vivia lavrando o chão
Os bailes da redondeza
Era a minha diversão
A rapaziada reunia
Todos com grande alegria
Era certeza que eu ia junto
Com os meus irmãos
Chegava de madrugada
Só pelo rangido do portão
Papai da cama dizia
Meu filho agora cadê João?
Com quem ficou Rafael?
Como demora vir Sebastião
Isto sempre repetia
Sei que o velho não dormia
Enquanto ele não ouvia
Os filhos pedir bênção
Um dia falei pra ele
Papai agora quero saber
Por que se preocupa tanto
Se todos nós sabemos viver
Meu filho sua pergunta
Deixo pro tempo lhe responder
Na hora pensei comigo
Entender eu não consigo
Isso é mania de antigo
Em tudo se intrometer
Sou casado há muitos anos
E já assisto um filho crescer
Vendo a maldade de perto
Que é bem sujeito acontecer
O nosso mundo é uma estrada
Tem muitos lados pra se pender
Por mais que eu seja disposto
Pensando em certos desgostos
As rugas deste meu rosto
Já começa aparecer
Agora eu compreendi quanto
O papai já tinha sofrido
A pergunta que eu lhe fiz
O tempo havia me respondido
Na frase que ele me disse
Somente agora encontrei sentido
Com pesar no coração
Eu lhe dou toda a razão
Fiz a ele uma oração
Papai já é falecido