Triste Lupicínio
TRISTE LUPICÍNIO
[zeca baleiro]
Ó, meu amor, minha vida
Cada dor, uma ferida
Tu não soubeste me amar
Te dei meus melhores beijos
Minhas harpas, meus arpejos
Minhas loas de luar
Te jurei fidelidade
Sem malícia, sem maldade
Sem as grades da ilusão
E tu também fizeste juras
Dentro da câmara escura
Do desejo e da paixão
Pelo asfalto vou descalço
Pois um juramento falso
Ah, faz a gente sofrer
Sonho de amor ordinário
Solidão foi o salário
Deste imenso bem-querer
Ao perdedor, as batatas
E entre vodcas baratas
Fui vivendo sem sentir
Passei as tardes de agosto
Degustando meu desgosto
Jurando vingança a ti
Como um triste Lupicínio
Sei que a dor é meu domínio
Dominó, desilusão
É por ódio que reclamo
Oh, Dio, come ti amo
De perder minha razão
Resolvi cortar os pulsos
Como um poeta russo
No ano da revolução
Disse a mim: sim, vou matar-me
Sem alarde, sem alarme
Sumir neste mundo vão
Bem na hora em que eu ia
Entrar na Casas Bahia
Pra comprar um canivete
Te vi a flanar na rua
Aluada mais que a lua
Mastigando seu chiclete
Voltei pra casa correndo
Desisti do crime horrendo
Que eu pensei em cometer
Ontem fui num baile funk
Cantei samba de Aldir Blanc
Aliviei meu sofrer
Tu chegaste assim charmosa
E eu caí como uma rosa
Como um sol que vai se pôr
Um pierrô apaixonado
Um babaca embasbacado
Sei que fui um amador
Hoje vou curar meus vícios
Com poemas de Vinícius
E um samba de Ismael
Nunca mais quero romance
No amor serei freelancer
Só também se vai ao céu
Nunca mais paixão romance
No amor serei freelancer
Só também se vai ao céu
Nunca mais quero romance
No amor serei freelancer
Só também se vai ao céu