Ao Arrepio da Lei
AO ARREPIO DA LEI
[Chico César e Zeca Baleiro]
ao arrepio da lei comecei ir ao cinema
ver faroeste sem idade para entrar
no meu nordeste idade nunca foi problema
cidade pequena todo mundo estava lá
e o bilheteiro gostava da sala cheia
eu pagava meia pra ver django se vingar
e aquela sede de justiça e de vingança
era cacimba em que minha alma de criança
eu mergulhava para o mundo enfrentar
ao arrepio da lei, namorei uma pequena
eu com 14 e ela tinha 23
vejam vocês na sala escura o meu dilema
olhos na cena, coração na mão talvez
saquei um beijo feito um giuliano gemma
viva o cinema, minha alma quis gritar
sangue nos olhos do caubói corre o destino
como nos sonhos no meu tempo de menino
que a fome e a sede pecos volte pra matar
ao arrepio da lei, me criei contra o sistema
vender poemas virou minha profissão
com a viola a tira colo, sou problema
carrego lema de lutar contra opressão
herói sincero, franco nero sem algema
que aos céus blasfema contra os donos do sertão
um trinity que vai cantando sua balada
um zorro zonzo e um tanto tonto cuja espada
é a palavra derramada pelo chão
ao arrepio da lei, eu sei
não me arrependo de nada