Boca de Noite
Não posso ver Sol baixando
Quando vai escurecer
No tempo da fumaceira
Eu chego quase a morrer
O Sol desce avermelhado
Começa o meu padecer
Meu coração se contrai
Acostumado a sofrer
Vida triste essa minha
Eu passo a noite inteirinha
Suspirando sem querer
A sombra desce do morro
Como um fantasma comprido
Ameaçando sem pena
Um coração já sofrido
Um bando de papagaio
Fazendo grande alarido
Passa por cima do rancho
Castigando meu ouvido
Voando aos pares juntinhos
Cada par vai pro seu ninho
Só eu vivo esquecido
A primeira estrela brilha
Na copa do espigão
A saracura três pote
Canta lá no ribeirão
É hora da Ave-Maria
Eu rezo com devoção
Pelo menos nessa hora
Conforta o meu coração
Essa hora é de tristeza
Vai dormir a natureza
Desperta a minha paixão
Nem sempre aqui foi assim
Houve tempo de alegria
Tinha amor, tinha viola
Na mais linda companhia
Mas numa boca de noite
Quando a tardinha caía
Minha flor se despediu
Sem dizer pra onde ia
Desde então vivo chorando
Não posso ver Sol baixando
Quando vai morrendo o dia