Soberana
Mas quando ela vai-se embora
Sacode a poeira da sua saia
Quando ela chega ninguém faz pouco
Samba-de-caboclo é a sua praia
No véu da cambraia ela deixa louco
Quem tá no sufoco e só quer gandaia
Não foge da raia no arranca-toco
Dá tapa, dá soco e rabo-de-arraia
Não há quem não caia com seu pipoco
Ogã fica rouco, Iaô desmaia
Mas é num bom samba que ela dá o troco
Mexendo com a folha da samambaia
É pedra-noventa, ela quebra o côco
Mas não arrebenta a sapucaia
Mas quando ela vai-se embora
Sacode a poeira da sua saia
Saia-de-roda de renda baiana
Blusa de filó tomara-que-caia
Cinto trançado na palha-da-cana
Pulseira e colar; pena-de-jandaia
Com leque de conchas ela se abana
Não entra num samba que não lhe atraia
Sambando parece uma soberana
Do lado tem sempre alguém de atalaia
É que ela é da Casa Real africana
Nunca foi mucama de qualquer laia
Por isso no samba ela não engana
Só toca no chão com a ponta da saia