Peleja #2
A lua deixava a noite mais clara que o dia
uma brisa quente arrepiava a pele
prevendo que não haveria sorte
cavalgava no vento do norte
Um ódio que não se avalia
a rasga-mortalha anunciava:
chegou o tempo de morte!
Zé capenga entrou as quanto e tanta na bodega de Firmino. Uma alapada de cana a essas horas, sempre é como um tiro certeiro na titéla. Firmino serviu. Quieto, que nem mandacaru na seca. Jogando um dominó estava, Bié de tóta, Saguí, Pedro de Pedro Timão e Honório de Açucena da quixabeira. As pedras do dominó estralavam sobre a mesa de madeira e parecia tiros de carabina. Zé respirou fundo.
— É, Firmino... De hoje não passa!
Tudo parou, como se o próprio tempo ficasse perplexo com a indagação de Zé. Só se ouvia as moscas e os grilos. Depois tudo voltou a se movimentar quando o copo se sacudiu no balcão.
— É, homi... Cê tá lascado.
— Bote outra!
Bié de Tôta espirou na janela.
— Os homi e vem!
Desce pela garganta a cachaça e o último resto de vida. Copo no balcão, olhos nos olhos da morte. Mão na mão dum velho amigo. O sorriso e um oxem no rosto.
— Os jagunços não vão deixar tu sair vivo daqui...
— E quem disse que eu tenho essa intensão...?
— Rapaz, eles só querem ocê... deixe nós fora dessa... Disse Pedro sorrindo
Zé capenga nos olhos do velho amigo e sorriu...
— Como se vocês num gostasse de uma peleja
Os camaradas riram como se fosse diabos
— Se eu sair vivo daqui, Firmino, Eu compro o terreno de Lurdes e crio uns bodes pra vender com tuas cachaças. Disse Saguí contanto as balas num velho revólver taurus calibre 22.
— Se eles não acertarem as cachaças eu deixo uma dose de graça pra vocês.
— Só uma? Larga de ser suvino, Firmino! Berrava Pedro!
— De mim eles matavam Zé e iam se bora e deixava nós terminar o dominó. Dizia bié se rindo feito o cão.
— Deixe de bestagem, Bié, pra num ir conversar com deus antes do tempo.
— Eu só quero voltar pra açucena... Outra dessa pra mais nunca! Dizia Honório.
— Lhe entendo bem.
— O gosto amor pela morte é sua Zé... Se não tivesse roubado Maria
— Me diga, Honório, se tu num faria o mesmo?
O silencio tomo mais uma vez a bodega.
— Fazia. Mas tu num falou nada com a gente... Pra mim ela já ia casar com tu...
— Iapois, o coroné tirado a nosso senhor deu de achar que era dono dela. Ela podia até tá esperando um filho dele, mas ela é minha mulher agora. Ele que mande os diabos deles me matar... Eu posso perder a vida hoje... Mas, ele num via ver maria nunca mais.
— Vamos deixar de pilera que eu acho que já chegaram...
— Capenga! Nem adianta se esconder, sinhá rapariga. É hoje que nós lhe mata!
— Rum, quero ver é cês tentar.
Pela greta na janela dava pra ver o coronel e mais uns 30 jagunços
— É uns 5 jagunços pra cada
— Se eu matar o coroné já é o suficiente.
— Só dá o comando, coroné...
— Espapoca a cara dessas miséra.
Era tiro por cima de tiro. Um panavuê comendo no centro. Quem tem um olho no futuro enxerga bala que ainda nem veio e desvia da morte tranquilamente. Sague e cheio de pólvora misturava com o cheiro e a cachaça jorrada no chão.
— Já morreu, capenga?
O silencio afirmava a certa que o coronel tinha. Era só mijar no corpo do inimigo e depois procurar seu prêmio. Maria.
— Bora vê ser aquelas misé...
Antes de terminar, um tiro da carabina de zé acertou bem nomeio da testa do coroné...
— Desgraçado! Cê matou o coroné....
— E vou matar todo mundo
Era tiro que num se acabava mais, até que a poeira baixou e o dia contava os corpos... Quem fugiu, fugiu... Na bodega, o corpo de Saguí, Bié de tóta e Honório. Lá fora, mais de uma dúzia de jagunço... Onde foi parar o resto? Nem Deus nem o diabo sabe.
Mas, de uma coisa é certa...
Em algum lugar do sertão, nasceu um menino chamado Luiz.