Regente da Nação
Cansado da vida torta
Resolvi bater na porta
De um regente da nação
Sem jogar conversa fora
Comecei a minha história
Doutor, eu sou um ladrão
Roubo relógio e carteira
Depois saio na carreira
Até a Praça da Sé
Combinamos o valor
Entrego pro comprador
Jamais direi quem é
Depois numa brincadeira
Gasto tudo em bobageira
Não aproveito um vintém
Assim como cão sem dono
Vou vivendo no abandono
Igual filho de ninguém
Doutor, me dê outra imagem
Sem mancha de tatuagem
Quero outra identidade
Porque já estou cansado
De viver abandonado
Pelas ruas da cidade
O doutor me adotou
E a minha vida mudou
Lençol e cobertor de lã
E eu gostei da mudança
Ao ser criança esperança
Para o dia de amanhã
Vejam quanta mordomia
Eu tinha no dia a dia
No almoço e no jantar
Uva, maçã e morango
Strogonoff de frango
Comia até caviar
Deixei a lata de cola
Mas quando eu ia pra escola
Para aprender a lição
Nessa hora o trem passou
E o barulho me acordou
Vejam que decepção
Sob o mesmo viaduto
Naquele triste reduto
Lá estou eu novamente
Sem caviar sobre a mesa
Sem conforto da nobreza
Sem mansão e sem regente
No sonho eu regenerei
Mas amanhã voltarei
A ser o mesmo menino
Trombando e depois correndo
Roubando e sobrevivendo
Na regência do destino