Acalanto Elegia: Para Criança Morta

Tom Drummond

"Acorda, meu anjo
Desfaz toda mágoa e pesar
Consola meu anjo
Quem viu e velou teu chorar
Bem sei que o divino é próprio a ti
Tão mais que esse mundo meu
Tens teu céu azul, um manto azul
E assim, terás mãe melhor que eu

Desperta, meu anjo
Resguarda o meu resto de fé
Abranda meu anjo
A dor que uma perda requer
Me encontro prevendo as ânsias medos
Que deverias ter
Todo sonho meu via a ti era teu
Me diz que vazio devo eu prever

Não há mal que essa triste cena, esse luto amargo
A turvar meu olhar
Tudo é consolo ou silêncio
Ambos não me servem nem hão de confortar
O materno em mim que assiste enfim a despedida

Tenho devoção
Por todas as lembranças que insistem em vir
Me alentar
Pena não poder espantar, num abraço, o frio
A te aprisionar
Tua palidez
Que antes tão corada toda inquietação que vi
Não vejo aqui
Mas onde estiver me ouvindo
Saiba do meu amor por ti

Eu me lembro de uma mãozinha tênue
A pedir meu braço a se dar
Se entregar
E de uma voz tão manhosa ao vir me explicar
O porquê do chorar
Ainda ouço as risadas que foram compartilhadas
E ao rir, me revia em ti

O que me dói é perceber
As ausências que você vai deixar
Hei de abrigar

Essa amarga agonia
Que não quer passar
Faz de moradia
A quem só quer curar
Os atos de horror
Que o meu destino traz
Só me resta conviver com a dor
Que arrasta tanta mágoa por nos separar
Vida interrompida
Alce voo e vá, sei que pra ti o mundo jaz
Só quero que você siga em paz

Ascende, meu anjo
Pra vasta ternura alcançar
Atende, meu anjo
O coro celeste a chamar
Não temas o que é desconhecido
Não há de ser ruim
Tua mãe está aqui pra fazer
Dormir pra embalar
Teu eterno sono enfim

Pra embalar teu eterno sono enfim"

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