Acalanto 5: Entre Pais
"Deve ser rapaz,
Um menino, um ato divino
Um gesto sem par
Repousa em mim
Inquieto, tanto afeto
A se dedicar
Pro que vem chegar
Deve ser rapaz,
Um menino e a cada atino
Um festejar
Desvenda a cor,
A forma, o gosto,
Um rosto a se orgulhar
Da vida que há
Em tão pequeno ser
Me faz imaginar
Uma bola, um carrinho,
Um cachorro por banhar
Serei herói
Pra todo vilão que enfrentar
Não hei de esquecer das armações
Castigos que terá
Hei de admitir
Serei comparsa em muitas que armar
É tal revolução que consta em mim
Só de esperar
Todo eixo que eu devo ter
Deve se partir ou se perder
Deve desistir de si
Revogar
Uma miniatura
Um bebê
Algo que me enche de prazer
Uma alegria que eu não sei disfarçar
Eu aguardo um presente, um dom
Um princípio, um início, um nascer
Não sei da razão
Mas, na minha impressão,
Uma menina linda há de ser
Já seguindo esse intuito meu
Vejo tudo em rosa bebê
O berço, a banheira,
O lençol, mamadeira
Uma menina linda há de ser
Não há repressão
Que possa omitir
O que pulsa, o que paira no ar
Tão bem me acolheu
Um ventre só meu
Só nosso onde eu posso
Assistir o meu recriar,
Recriar
Já não sei conter
O meu sorriso a imaginar
Noites de natal,
Aulas de ballet,
Embalando uma boneca a me imitar
As histórias antes de dormir
Te cobrir, te fazer sonhar
Se acaso teu primeiro amor
Te magoar
Se houver uma ferida
Uma tristeza na vida, ela passa
Vou fazer passar
Todo erro que esse mundo traz
Eu posso reparar"