A Alma do Chamamé

Joca Martins / RODRIGO BAUER

Não sei de onde é que brota
A alma do chamamé...
Um dia a chama se esgota,
Mas até lá vou viver
Levando a vida estradeira,
Correndo os olhos no azul,
Cantando a sina campeira
Desse universo do Sul!

Meu povo agrário e guerreiro,
Sorvendo o rio Uruguai
Num chimarrão missioneiro
Soluça num sapucay...
Vão nele sonhos e mágoas
O olhar se alaga e revê
No espelho turvo das águas
A alma do chamamé!

A minha vida se espanta,
Não sabe ver o porquê
De carregar na garganta
A alma do chamamé!

Não há razão que defina,
De onde ou mesmo do que
A angústia que me domina
Na ausência do chamamé!
Vovação chamamecera,
Olor de terra e capim;
O espírito da fronteira
Que vaga dentro de mim!

A vida não tem amarras,
Pulsando nos emociona,
No encontro de uma guitarra
De um sapucay e cordeona...
Levo a querência nas botas,
Do instinto vou a mercê;
Não sei de onde é que brota
A alma do chamamé!

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