Não Desiste

Mel Duarte

Não desiste negra, não desiste
Ainda que tente lhe calar
Por mais que queiram esconder
Corre em tuas veias força ioruba axé pra que possa prosseguir

Eles precisam saber que a mulher negra quer casa pra morar, Água pra beber, terra pra se alimentar
Que a mulher negra é ancestralidade de imbês e atabaques Que ressondam os pés

Que a mulher negra tem suas convicções, suas imperfeições Como qualquer outra mulher vejo que todas nós
Negras meninas
Temos olhos de estrelas que por vezes se permitem constelar

O problema é que desde sempre nos tiraram a nobreza, Duvidaram das nossas ciências e quem antes atendia pelo pronome alteza hoje pra sobreviver lhe sobre o cargo de empregada da casa

É preciso lembrar de nossa raiz semente negra de força matriz
Que brota em riste, mãos calejadas corpos marcados sim
Mas de quem ainda resiste
E não desiste negra, não desiste
Mantenha sua fé onde lhe couber seja espírita
Budista do candomblé
É teu desejo de mudança
A magia que trás da tua dança que vai lhe manter de pé
É, você mulher negra, cujo tratamento majestade é digno
Livre que arma seus crespos contra o sistema
Livre que anda na rua sem sofrer violência
E que se preciso for levanta a arma, mas antes
Antes luta com poema
E não desiste negra, não desiste
Ainda que tentem lhe oprimir
E acredite eles não vão parar tão cedo
Quanto mais você se omitir
Mais eles vão continuar a nossa história escrevendo
Quando olhar para suas irmãs veja que todas somos o início
Mulheres negras, desde o primórdio, desde os princípios
África mãe de todos, repare nos teus traços, indícios
É no teu colo onde tudo principia
Somos as herdeiras da mudança de um novo ciclo
É por isso que eu digo que eu não desisti, que não desisto
Que não desisto

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