Filho de Boiadeiro
Numa passagem de Minas
Do que cruza pra Goiás
Repiquei o meu berrante
Dei sinal ao capataz
Reconte logo a boiada
Reúna toda a peonada
Vamos fazer a pousada
Que amanhã tem muito mais
Enquanto os peões conversavam
O local eu percorria
E sem demora eu notava
Que alguém se aproximava
Pelo luar que fazia
Aproximou-se um menino
Que desse jeito falou
Eu aceitava comida
Se por acaso sobrou
Mas se tiver precisando
Posso pagar trabalhando
Tenho apenas treze anos
Mas conheço o chão que estou
Foi algo de muita graça
Entre risada de peão
Contou-me uma triste história
Que abalou minha memória
E cortou meu coração
Desde a idade de seis anos
Sigo no mundo sozinho
Por ser filho do pecado
Não tive amor nem carinho
Trabalhando igual um homem
Pra matar a própria fome
Mas trago no sangue o nome
Que ilumina o meu caminho
Muito embora meu paizinho
Não tenha me conhecido
Em cada potro que domo
Em cada resto que como
Sei que papai está comigo
Eu tinha apenas seis anos
Mas me lembro no repente
Pra o sitiante vizinho
Mamãe falou sorridente
Vim lhe dar a despedida
Vou seguir a minha vida
Só deixo muito sentida
Essa criança inocente
Mas se puxar pelo pai
Será um peão verdadeiro
Eu herdei essa pestinha
Do finado Ferreirinha
Que foi grande boiadeiro