Camaleão

Ronaldo Fonseca

talvez ainda esteja, antes de amanhecer,
a dormir acordado
como quem esteja a dormir num dia mau,
e não queira que acabe ali
solto-me ao rigor de deixar-me improvisar,
no pior que aconteça
se deixasse ver um bocado mais de mim,
perderia o disfarce
sou um gigante na sombra que colhi
das formas e peles que encarno ao calhas;
vestido de gente, sou como faço crer: dissimulante.
sou como um licor de sabor abandonado: mau de azedume

amansei o travo e a urgência de beber dos lábios
veneno
sou um gigante na sombra que colhi
das formas e peles que encarno ao calhas
vestido de gente, sou como faço crer:
dissimulante.

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