Boiuna

Paulo André Barata / Paulo César Pinheiro

Em noite de escuro parece uma escuna
Em noite enluada parece um navio
Caboclo é que sabe que aquilo é boiúna
É paranamaia, é a dona do rio

De um coito no mato, ao pé de uma imbuia
De icamiaba com coisa-ruim
Nasceu a mãe-dágua da raça tapuia
Parida mei-cobra, mei-cunhantaim

Inchou de tamanho, largando das matas
Foi serpenteado capins e sapés
Seu corpo arrastando cavou cataratas
Criando os contornos dos igarapés

Nas águas mais fundas fez sua morada
Foi sendo chamada de sucuriju
Jibóia, anaconda, de cobra-encantada
Cainana, norato, boibi, boiaçú

Tem olho de tocha que à noite alumia
Criando visagens pelo rio-mar
O olho de fogo da cobra-maria
Deixa mundiado quem vê seu olhar

Pajé diz coitado daquele que ande
Em lua de assombro, a querer vadiar
Acaba engolido pela cobra-grande
Na beira do rio, duvida? Vai lá

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