Sem Sucesso
Infância – no quintal de cascalho batido, solitário um garoto inibido
De camarote assiste o conflito
Esperança – de no rosto ter um sorriso, acima de tudo singelo
Como o humor de um palhaço no circo
Confiança – necessidade de um amigo
Só na TV tudo é perfeito aqui ninguém chora contigo
Herança – na prática é relativo, pois na má administração
Se perde até o amor investido
Fim de semana no parque, observo, vejo o contraste
Ao invés de piquenique só discussão no acorde mais grave
As vozes ganham destaque, pra agressão eles partem
Meu pai alucinado acerta minha mãe que não reage
Socorro! Grito aflito! Fico perdido, peito contrito
Inerte pela circunstâncias, ódio que nasce, amor coagido
E ainda que me provem que amor de família não tem fim
Não é convincente, pois nada disso cabe pra mim
Adolescência – dúvidas que me perturbam, meu ego é um universo
Minha mente é outro mundo
Displicência – fora do foco estratégico, batalhas travadas em vão
Pois o que vejo não são méritos
Ocorrência – de tudo que fiz, paguei com juros
O prejuízo de algo que não investi
Consequência – reclusão de sentimentos, palavras que não expressam a dor que sinto por dentro
Refém do medo imposto por quem me educou, um bateu, um chorou
Um gritou, um sangrou
Policia o algemou de canto um observou
Por um momento livre do monstro que me criou
A dor que é cultivada na infância, na adolescência é colhida
Vendaval em boa hora, tempo pra sarar feridas
Mas não tão simples assim, isso estigmatizou
Marcas que o tempo não apaga e que o crime sustentou
Vivo hoje com um sentimento de imortalidade
Tô por cima no bagui, não importa, essa é minha verdade
Vivo hoje – pensamento fixo em obter minha cota
Sem me importar como adquiro
Pois o castelo que ergui com o crime desmoronou
Acho que não consegui ser o que minha mãe sonhou
Tarde demais, agora não da pra voltar atrás
Vejo um filme passando e me sinto Barrabás
Pra completar o mártire: Mandato de busca. Invadir
Flagrante exposto. Tentei fugir, capturado, cárcere
Talvez última chance de obter uma mudança
Convites não faltaram, uma vaga lembrança
Dez anos de jaula em regime semi aberto
Um terço da pena to na rua tudo certo
Na quebra um frevo pra celebrar meu regresso
No comando da quina, sem sucesso