Das Coisas Que Doem
Já não há tanto que me doa agora
O que mudou agora é que me dou agora
A um consistente luxo do ar deitar fora
De me deitar sóbria e meditar sozinha
Sem medicar a crónica dor de ficar afónica e incapaz de fóbica
Fechar a porta da fábrica
Presa à encardida farda numa greve sinfónica
Não é de fome porque come e tá de novo pronta à vomitar
E eu explico à raiva que volta
Não ter razão de revolta só um passado que me molda
A ser aquela que mal dá o dedo e logo tira
Porque a mesa sempre vira então talvez eu prefira
Ser protagonista da vida, tirar da lista ser querida
Tendo em vista ser mina de um ouro que dá e dissemina
Reclamo o toque de midas e a emergência das saídas
Sinalizada pelas chagas que eu peço que não sigas
Tudo o que mói me mata
Se eu deixar
Tudo o que dói faz falta
P'ra lembrar
Tudo o que arde inflama
Se eu deixar
O que eu larguei só chama
P'ra lembrar
E eu fui contra-feita por isso vou contra o bando
Única afronta aceite ao rótulo sub-urbano
Sem actuar na cena sou eu que subo o pano
Para que alguém com mais jeito derrote o sub-humano
Cuja a causa e efeito é o culto ao defeito
De se achar com mais direito pelo herdar profano
Ignorando o preconceito e o raro deleite de a mal ser sujeito
E mesmo assim ser franco
Porque fica mal ser brando a quem se chama macho
E de que vale dar sangue a quem não dás o braço?
Um peso já não expresso em unidades de maços
Enquanto me impeço que a taça não estilhace
De cada vez que ainda zango por não ter sunquick ou tang
A celebrar no tempo o ocupar de mais espaço
Mas se há na sala elefante é o traço constante
De não saberes dar amor fosse este abundante ou escasso
Tudo o que mói me mata
Se eu deixar
Tudo o que dói faz falta
P'ra lembrar
Tudo o que arde inflama
Se eu deixar
O que eu larguei só chama
P'ra lembrar
Tem forma de coração a caixa de que ainda me queixo
E o buraco na torácica a que me afeiçoei
Desde então remendado: sei que ainda me fecho
Bem, é novidade depois d'aquilo qu'enxuguei
Voltar à sanidade que antes de ti
Só visitei e dar real significado à palavra companheiro
Do magnetismo nato, noto o compromisso
E sei amar-te inteiro e tornar tinteiro:
O que foi negro e feio e do que não fomenta ideias
Fazer lenha, fogueiras, ou fogo p'rás feiras
Num artifício de teias que afaste varejeiras
E os variados voadores à procura de veias
De volta pelo calor e a minha carne selei-a
Para não ser refeição quando me querem de ceia
Faço-vos reacção alérgica , visceral
É poético que a vossa saliva na minha pele se leia