A Pedra da Boleadeira
Era pedra, e seguiu pedra
Era mato e virou lenha
Era tropa e se foi embora
Num grito de venha, venha
A pedra da boleadeira
Era do campo e da terra
Ganhou as asas do céu
Pra ser palavra de guerra
Quando era pedra redonda
Moradora deste chão
De certo já derrubava
Por conta de um tropicão
Depois foi feita redonda
Eterna em ciclos de Lua
Paciência por precisão
Nas mãos de um índio charrua
Eram só pedras de campo
Cansadas de andar à toa
Até que um dia alguém disse
Será que pedra não voa?
Ganhou parceiras pra guerra
E tentos pra irem ao céu
Uma firme e duas soltas
Rodando sobre o chapéu
Voava de rumo e vento
Fazendo um zum pelo rastro
Quando pegava era um tombo
Quando cruzava era pasto
Pra bolear potros velhacos
Bem antes dos alambrados
A pedra da boleadeira
Tem ressábios do passado
Hoje em dia nem se enxerga
Três marias pelos céus
Se foi o tempo dos tombos
Das potreadas e boléus
Mas sei que ainda há destino
Na pedra, na boleadeira
Que quando tem rumo certo
É muito mais que certeira