Boi Furacão
Certa vez ao regressar a minha cidade que me criei
Lembranças da minha infância e dos amigos que la deixei
Foi quando eu vi a chegada de um circo de rodeio
E os peões boiadeiros desfilavam pelas ruas da cidade
Enquanto o desfile passava naquele instante eu recordava
Do meu velho pai querido que há 8 anos havia morrido
Levando consigo a sua fama de campeão dos rodeios
Eu ainda era criança quando me deram a noticia cruel e doida
Foi o maior golpe da minha vida que tirou o meu pai da lida
E o meu sonho de um dia ser que nem ele, um verdadeiro peão
Eu me lembro quando eu cheguei la no rodeio a arquibancada toda lotada
Olhei no rosto de cada peão e perguntei pelo o meu pai e ninguém me respondia
Foi quando olhei no centro da arena e vi seu chapéu caído, do lado dele seu corpo estendido
Todo ensangüentado, quase que eu perdi os sentidos, nunca mais eu esqueci esse passado
Na hora eu ainda quis saber do touro pra me vingar do assassino
Mas eu ainda era um menino
No meio daquela peãozada que só me diziam
É um touro novo vindo de uma invernada
Preto igual um carvão e das bampas bem afiadas
E naquele instante que eu recordava, enquanto o desfile passava
Eu ouvi o anuncio que o locutor falava
Que faltava peão pro rodeio e a inscrição já começava
E eu que ainda era um jovem que nunca mais tinha ido num rodeio
Depois que o meu pai morreu
Já sentia no sangues nas minhas veias a fibra de um peão
Puxei o meu chapéu na testa fui la na festa e fiz a inscrição
Na hora do sorteio eu tirei o meu papel
Eu levei o meu pensamento e mal sabia que naquele momento
Em minhas mãos estava o nome de um touro assassino que matava sem perdão
E eu que era novo de profissão
Perguntei sem receio, se algum peão ali do meio
Conhecia aquele touro que eu tinha tirado no sorteio
Mas ninguém me respondeu, eu fiquei ali sentado vendo todos calados sem entender nada
Foi quando eu ouvi uma voz que veio do canto
Uma voz grossa falava brando
Olhei para trás e vi que um senhor de idade
Devagar se aproximava e colocando as mãos sobre os meus ombros me disse
Filho eu vi o teu sorteio e como dono desse rodeio
Ouça o que vou-lhe dizer, eu não quero te aborrecer
Mas neste touro você não pode montar
Você ainda é um garoto deixa isto pros outros que a vida já pode ensinar
Ai então eu me levantei e olhei bem dentro dos seus olhos e disse
Senhor se a vida ensina então deixa ela me ensinar
Está é minha sina, por favor senhor me deixa montar
E ele me respondeu: Eu vou fazer sua vontade
Meu jovem peão, mas como obrigação eu preciso lhe dizer algumas palavras
Eu sou o dono desse circo a mais de 40 anos
E viajo o mundo inteiro comprando touro bravo e cavalo redomão
E eu tenho na minha boiada
Um touro muito afamado pela sua crueldade por seus pulos rodados parecendo um furacão
Aliás com esse nome de furacão ele ficou batizado
Depois de ter matado o peão mais afamado do rodeio brasileiro
Eu compreendi naquele instante, que ele estava do meu pai
E que tava ali no rodeio aquele touro assassino
Que um dia agualou os nossos destinos
No dia em que ele matou o meu pai
E a história desse touro assim ele me contava
Meu jovem depois deste fato da morte do seu pai
Eu já corri todos os estados e pra esse touro não teve peão
Os que tiveram mais sorte, se livraram da morte
Mas saíram muito machucados
No rodeio passado la no estadão do Goiás
Tirou ele no sorteio um peão de fama
Considerado o campeão brasileiro e até na nos estrangeiros ele já tinha ganhado
Mas furacão é traiçoeiro e não da glória pra peão
Esse moço coitado nunca mais terá seus passos
Quebrou os seus braços e suas pernas, não teve salvação
Perdeu a fama e ficou aleijado e hoje ele está preso em uma cama
Vivendo apenas de recordação
Assim é o furacão, de fato próprio retrato da covardia
Esse touro tem mais fama do que o seu pai já teve um dia
Mais eu não estou aqui, com isso querendo te amedrontar
Usando estás palavras meu jovem peão
Mas quando inquieto você estava ai sem saber que touro ia montar
Eu achei que era minha obrigação te aconselhar
Mas já que você não quer desistir eu não vou mais insistir
E nem conselhos eu vou lhe dar
Segue em frente a sua jornada o seu destino está em suas mãos
A sua sorte já foi lançada porque o seu touro é o furacão
Eu ouvi aquilo, fiquei em silêncio
Sabendo que aquele touro que eu tinha tirado no sorteio
Era o mesmo touro que um dia tinha matado o meu velho pai
Foi então que ele me disse, filho conheço a tua coragem
Mas desconheço o teu destino
Você já é um homem formado, mas vejo em seus olhos, que ainda é um menino
Sei da sua vontade e percebo o que está sentindo por isso
Filho o teu pensamento e faça a tua oração pedindo a proteção divina
Que se houver a queda, que Deus segure na sua mão
Porque a queda é sentida é doido o empate da vida
Pode ser a sua glória a sua fama
Pode se transformar em pó e lama
Se você cair no chão
Ainda é tempo de desistir, mas já que não é esse o teu desejo
Só peço uma coisa faça tudo para não cair, porque o touro é perigoso
Eu ouvi a palavra daquele velho tropeiro, ouvi os teus conselhos
E ele saiu me deixando sozinho
Confesso que eu senti medo naquela hora
Sabia que aquilo não era brinquedo, mas eu não podia ir embora
Foi quando olhei pra cima e vi que o céu estava estrelado
Procurei o meu pai entre as estrelas do infinito e implorei pra ele um grito
Mas depois fiquei calado
De repente tive a impressão de ouvir um eco de um berrante
Soando distante me veio um calafrio
E um zumbido de uma laço
Parecia que do meu lado tinha uma presença
E eu senti que era o meu pai me dando a bença
Porque eu senti nos meus punhos a força do teu braço
Nisso no céu começou um bombardeio
Era tanto rojão que estourava e o tiroteio
Anunciava que já começava mais uma festa de rodeio
Peguei o meu chapéu a minha calça de couro, a fivela cor de ouro
E o meu cinturão dourado
Fui entrando no rodeio, a arquibancada toda lotada, mas quando olhei no picadeiro
Eu vi que ainda não tinha esquecido a imagem do meu pai caído
E o triste fim de um campeão brasileiro
Nisto o locutor já estava anunciando, que a festa já estava começando
E eu corri la pra trás dos bretes e já fui me aprontando
Tirei da sacola um par de esporas
Que eu tinha ganhado do meu pai, um dia antes dele ir embora
E na arena eu fui entrando junto com os meus companheiros
E o berrante ia repicando saldando os boiadeiros
De repente foi aquela correria, era gente que gritava era gente que sorria
O locutor emocionava, o povão todo aplaudia
Mais de 30 montarias e apenas uma que faltava
Furacão era a última apresentação daquela noite
E a arquibancada que já conhecia a fama do touro
Foi ficando calada prestando atenção
Atenção, atenção, atenção dava pra ouvir o bicho la no fundo dos bretes
Batendo contra as ferragens
Fui chegando perto dele, e vi que o bicho tava assustado
Foi ai que vi que ele tinha o dobro do tamanho que eu tinha imaginado
Era um boi preto mal encarado, chifre comprido e bem afiado
Subi em cima do brete tirei o meu chapéu de novo
E olhei pro céu e pedi a proteção
Com Deus no pensamento e o meu pai no coração
Pulei no lombo da fera
Sem muita espera mandei abrir a porteira
Na saída do furacão a arena já cobriu de poeira
Furacão saiu cavucando o chão, berrando ficando louco
Naquele sufoco assustando o povão
Ele explodia pra cima, rodava pra la berrava pra cá e descia
Rodava pra um lado, rodava pra outro
E com as exporás cravadas em seu couro
Sentado no lombo do touro até o apito final
E a arquibancada que por 8 segundos ficou calada
Prestando atenção começava aplaudir gritando
É campeão é campeão
E o locutor já emocionado ia narrando desse jeito
O que é que isso que está acontecendo
Furacão foi derrotado eu não acredito no que eu estou vendo
E ninguém acreditava e eu sentindo a missão cumprida
Pulei de cima do tirano e de joelhos na terra eu cai rezando
Agradeci a Deus por ter me ajudado, furacão foi derrotado
Afamado cruel e assassino, são iguais agora nossos destinos
Acabou a sua glória, porque a sua fama agora é minha
De joelhos no chão a platéia ainda me aplaudia
E eu chorava de emoção e de novo eu agradecia
Olhando pra cima em voz alta eu dizia
Meu pai ouça o meu pensamento, porque nesse momento
Eu vejo o seu brilho, pode se orgulhar desse teu filho
Porque eu estou fazendo o que o senhor fazia
O senhor me deu força e coragem e agora eu já sou um peão de verdade
Como o senhor já foi um dia