Brilhante Dança
O dia vai, o dia vem
E a soma em vão dos dias, também
Foge p'los dedos a conta certa
Dos dias em que o não te liberta
Sopra sem ar essa tormenta
Do falso enredo que te alimenta
Quem não se dá ao frio da chuva
Não sabe o gelo que há no chorar
Quem não se quebra
Por um instante
Não sabe o mundo
Que mora p'ra lá
Da solidão
O sonho veio, logo se foi
Que antes não querer do que perder
Fecha-se a porta, tranca-se a alma
Fica de fora a audácia de ser
Risco de amar? Outro que o corra
Risco de dar? Alguém me socorra!
Risco de ver mais que o umbigo
E ficar cego só pelo perigo
Risco de erguer
Um copo à vida
Onde se parte
Em pedaços, o vidro
Que nos separa
Em tom de medo, quase em segredo
Espreita-se a vida por trás do pano
Brilhante dança que nos convida
A encontrar passo à nossa medida
Vê-nos chegar
De pé atrás
Pouco lhe importa
O que o medo nos faz
Sem mais demora, dadas as dicas
Diz-nos que é hora de olhar adiante
E num abraço
Que não tem fim
A vida chega
Entrando a dançar
E a dizer que sim