Clarisse
A inocência compra o medo à vista
E a perversão parcela em doze vezes
A cidade ferve os arbustos com fogo cinza
Cuspido pelos escapamentos dos monstros mecânicos domados
Que rasgam as patas no asfalto incandescente, onde queimamos nossas próprias patas correndo joqueados por boletos
Que mais uma vez não vão ser pagos a tempo, nossos nomes jogados na lama e no chorume, e vamos vivendo titubeando entre álcool, depressão, narcóticos e ansiedade, até que Deus nos arrume
Não me amole, não me enrole, não me engane, não se assanhe, não peça esmola, não cheire cola, toma vergonha, volta pra escola, só não trabalha quem quer gandaia, só vagabundo tá de tocaia, olha o serviço sem compromisso, pra que direito, sou teu amigo, compro e vendo ouro ou prata, foto na hora, craque na lata, a ponte treme, cacete come, só fica vivo quem paga os homi, não me arrependo, não sinto nada, sobrevivendo o pudor acaba, e fico livre de ser só vítima, faço proveito e cobro a dívida