Cada dia são cem [Carta ao remetente]

Paulo Mouta Pereira, José Mário Branco

Cada vez que o sol se põe
Eu fico sozinho a pensar
Que vou eu fazer do novo dia que aí vem
Cada dia são cem
Cada vez que a noite chega
Com a escova do dentes a brir
Eu eu olho p'ró espelho a ver se vejo um imbecil
Cada dia são mil
Vivo na era das descobertas
E o tempo a passar sempre a horas certas
Só o tempo o passou por aqui
Só mesmo o tempo é que passou por aqui
Cada vez que a vida encolhe
Eu vou-me esticar nos lençóis
E o livro das contas quantas folhas é que tem
Cada dia são cem
Cada vez que o sono passa
Alguém já passou por aqui
Deixando um sinal do seu protesto viril
Cada dia são mil
Já lá vem um novo dia, já lá vem o sol
Já cá canta cotovia, foi-se o rouxinol
Já lá vem um novo dia, já lá vem o sol
Já cá canta cotovia, foi-se o rouxinol
É o tempo que me leva
E o tempo não é bobo a rir
Com sol ou com chuva ele molha sempre a alguém
Cada dia são cem
É o tempo que me espera
À porta de cada paixão
Fazendo a inspeção da evolução do meu perfil
Cada dia são mil
Vivo na era das descobertas
E o tempo a passar sempre a horas certas
Só o tempo o passou por aqui
Só mesmo o tempo é que passou por aqui
Devagar, que tenho pressa
Cada vez que a noite chorar
Por que é que dormir raramente sabe bem?
Cada dia são cem
Devagar, que tenho pressa
Depressa, que tenho vagar
De noite é que eu travo a minha guerra civil
Cada dia são mil
Já lá vem um novo dia, já lá vem o sol
Já cá canta cotovia, foi-se o rouxinol
Já lá vem um novo dia, já lá vem o sol
Já cá canta cotovia, foi-se o rouxinol
Cada vez que o sol se põe
Eu fico sozinho a pensar
Que vou eu fazer do novo dia que aí vem
Cada dia são cem
Que vou eu fazer do novo dia que aí vem
Cada dia são cem
Que vou eu fazer do novo dia que aí vem
Cada dia são cem

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