Poema da Paixão Escapulida

Jessier Quirino

Eu vou contar pros cumpade
Em forma recital
Que a matriz do meu juízo
Só teve uma filial
Uma moça tocha-acesa
De pavonear beleza
Mas voou do meu quintal

O que eu sentia por ela
Era um carinho, um fervor
Não de terceira grandeza
Foi grandezona primeira
Dessas que hasteia a bandeira
No pavilhão do amor

Ela, um biscoitozinho weife
De doce sanduichado
Enxuta a pano de prato
Do mormaço do serrado
E um beijo desses que estica
Desses que marca e arrochica
E o cabra fica marcado
Picolezado no frio
Tinha os peitinhos pulado
Podendo ser lido em braile
E eu cego, apaixonado

Com ela aprendi a sonhar
Ternurar qualquer coisinha
Ternurar o fuloreio
Que fulora uma plantinha
Desatar o nó das coisa
Arquivar pasta de briga
Saborizar os chamego
Me esprivitar das fadiga
Envergar torre de igreja
Pra desenganchar a Lua
Só maginando a nueza
Daquela cabôca nua

Quando ela me avistava
Nas esquinas do pomar
Era um bote de jibóia
Que vinha de forma ofídica
Querendo me jiboiar

Um dia entrou num concurso
Pra miss brejo e sertão
Era a mais apetrechada
Mas foi desclassificada
Pelo ruim da comissão
Chorou três dia e três hora
Desgostou-se, foi-se embora
Deixou de vez os grotão

Eu virei uma casca oca
Feito um tatu sem tatu
Desmunicipalizado
Distrito do pau-cansado
Margurado e jururu

Fiquei com jeito de bispo
Fugitivo do pecado
Pra não amar novamente
Nem coisei nem fui coisado

Me vendo ali acuado
Sem água-vai-água-vem
Escrevi pra caboquinha
Que logo escreveu também

Gostei muito de você
Mas casar, não posso mais
Hoje eu sou divorciada
Das conhecenças carnais
Tou num convento de freira
Servindo ao povo cristão
Soube que tu sois beato
E guardo aqui o teu retrato
Com zói lustre de paixão

Eu confesso, meu cumpade
Que foi tanta da emoção
Que'ue sendo um dr. Zerbine
Que'ue sendo um dr. Jatene
Um carlos bento de souza
Ou outro cirurgião
Se o peito dela eu abrisse
Botava a faixa de miss
No ombro do coração

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