China
A maior das gauchadas
Que há na Sagrada Escritura
Falo como criatura
Mas penso que não me engano!
É aquela, em que o Soberano
Na sua pressa divina
Resolveu fazer a china
Da costela do Paisano!
Bendita china gaúcha
Que és a rainha do pampa
E tens na divina estampa
Um quê de nobre e altivo
És perfume, és lenitivo
Que nos encanta e suaviza
E num instante escraviza
O índio mais primitivo!
Fruto selvagem do pago
Potranquita redomona
Teus feitiços de madona
Já manearam muito cuera
E o teu andar de pantera
Retovado de malícia
Nesta querência patrícia
Fez muito rancho tapera!
Refletem teus olhos negros
Velhas orgias pagãs
E a beleza das manhãs
Quando no campo clareia
Até o sol que te bronzeia
Beijando-te a estampa esguia
Faz de ti, prenda bravia
Uma pampeana sereia!
Jamais alguém contestou
O teu cetro de realeza!
E o trono da natureza
É teu, chinoca lindaça
Pois tu refletes com graça
As fidalgas Açorianas
Charruas e Castelhanas
Vertentes Vivas da Raça!
A mimosa curvatura
Desse teu corpo moreno
É o pago em ponto pequeno
Feito com arte divina
E o teu colo que se empina
Quando suspiras com ânsia
São dois cerros na distância
Cobertos pela neblina
Quem não te adora o cabelo
Mais negro que o picumã?
E essa boca de romã
Nascida para o afago
Como que a pedir um trago
Desse licor proibido
Que o índio bebe escondido
Desde a formação do Pago?
Pra mim tu pealaste os anjos
Na armada do teu sorriso
Fugindo do Paraíso
Para esta campanha agreste
E nalgum ritual campestre
Por força do teu encanto
Transformaste o pago santo
Num paraíso terrestre!