Pilatos II

Faz quatro anos que estou nesse lugar
O que me trouxe aqui? Não consigo lembrar
Só sei que a dor que senti quando parti
Não se compara com a dor que eu sinto aqui

Onde o homem não pode ver, ou tocar
Não há o que procurar
Onde não se escuta nenhum som nem grito algum é ouvido
Não há o que falar

Não há sentido em tentar preencher o vazio
Quando vazio se está
Quando não se tem o que oferecer
Não se pode dar

Não há felicidade aqui só uma infinita dor
Revolta, angústia e pó
Roma e suas lembranças que me consomem
Aumentam a aflição que me acompanha
Me sinto só

Julgo um povo que não é meu
Que amargo essa desilusão
Que não é minha
Não vou me envolver

Ouço passos ao meu redor
Ouço a turba em brados ir rompendo o silêncio
O que será?

Suas palavras eu consigo compreender
Mas não entendo a angústia
Que sente meu coração se debatendo
Em meu peito quando escuto nazareno

Trazemos a ti Senhor
Um homem dizendo ser o Cristo, rei de Israel
O Santo, o Messias
E ainda vive desobedecendo a nossas leis
Curando ao sábado
Por isso viemos aqui para te pedir
Para exigir, condena, crucifica
Livra-nos desse impostor que vive a nos atormentar

Senhor, trazem a ti os fariseus
Alguém que eles dizem querer ser Deus
Mas talvez seja apenas mais um
Rebelde agitador
O fato é que eles estão aqui e querem te ouvir

Querem que julgues o preso
E aguardam a sua condenação
A morte do réu é a única iguaria
Que intentam digerir
Trazem nos olhos o brilho da loucura em seu poder

Um alguém que emana ternura e paz
Dos crimes, não creio ele ser capaz
Olhar tão sereno; Só sei que o chamam
O nazareno

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