Resto De Fronteira
Ponteou de Sol, tarde linda
Pras bandas do camaquã
Depois da manga de chuva
Que se formou de manhã
Ficaram as nuvens esparsas
E revoadas de garças
Pros lados da tarumã
Sobrou barro nas mangueiras
Depois de apartar terneiros
Pra um bico de um João-de-barro
Erguer seu rancho de obreiro
Sobrou tempo pra um anseio
Depois de esporas e arreios
Pra um mate entre parceiros
Baios de lombos lavados
Retoçando a gadaria
No pasto verdeando o viço
Lá na invernada de cria
E a tarde a impeçar querência
Como se bebesse a essência
Das barras do fim do dia
O limite do meu mundo
Ganhou a sombra da figueira
Que debruçou-se copada
Até o moirão da porteira
Parece que se renasce
Como se o pago iniciasse
Neste resto de fronteira
E a noite falqueja estrelas
Com negaças de um palheiro
Que fogem por entre a quincha
Pra bordarem o céu inteiro
Levam junto a solidão
E as memórias do galpão
Com a alma deste campeiro
E assim tranqueia meu dia
Nesta campanha estendida
Entre galpão e invernadas
Entre mateadas e lidas
Com permisso das palavras
Cá neste rincão de lavras
Se sente o gosto da vida