Cartagena

Renato Côrtes

Retrato meio azulado
De noite longa e cacimba no ar
Trapiche estendido no rio
Ao afago lunar

Fervendo num cheiro marino
Tainha da guarda pra gente jantar
Esconjura magia certeira
Pra me enfeitiçar

Então era Sol
Água do mar
Bem na medida pra eu me afogar
Era o inverno
Que vento sul anuncia ao chegar

Era forró
Era ijexá
Bem no compasso pra gente embolar
Era estrada
Rumo incerto pra eu caminhar

Torpor e desembaraço
O vinho barato que é bom de beber
Dois corpos trançados na rede ao amanhecer

Silêncio e olho mareja
Eu viro de lado
Que é pra ela não ver
Desgraço toda despedida
Ao acontecer

Então era Sol
Água do mar
Bem na medida pra eu me afogar
Era o inverno
Que vento sul anuncia ao chegar

Era forró
Era ijexá
Bem no compasso pra gente embolar
Era estrada
Rumo incerto pra eu caminhar

Do jeito que veio
Ela se enveredou
Partindo sem saber se ia voltar
Em algum cais de Cartagena
Quem eu gosto aportou
No mar do Caribe fez seu lar
Eu compus um relicário
Que confessa toda dor
Da gente só se ver quando sonhar

Então virei poeta
Entortando todo amor
Que a vida me insistia apresentar
E o inverno sempre teima em voltar

Então era Sol e água do mar

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