No Braseiro da Mourama
Já vomitados do mar
E arremessados pelas ondas
Com febres de qualidade
Que com a vida fazem contas
Mais do que tudo era acudir
A esta fome que remonta
Mas não conhecendo o latim
Desta gente que nos ronda
Lá saía quem melhor sabia
Com a voz da galinha
Ou daquele outro animal
Uns com os braços
Fazem cornos na cabeça
Esses mugindo como o boi
E outros balando como ovelhas
Coisas de toques e pouco mais
Anunciávamos nossos conceitos
De viandas debiques e outras que tais
E oferecemos panelada
E foi de calda de cidrão
E cada qual metia as mãos
E a punhadas pelo quinhão
Uns sobre os outros vão comendo
Em toques e lambeduras
E na balbúrdia e confusão
Na untadela da gordura
Lá molhavam a mão naquela calda
Tocando a do mais vizinho
Lambida daquela untura
Se já provada pelo outro
Lá ficou
Lambendo também a sua
Ajustada naquele outro
E fazendo das sandálias colheres
Vão engolindo toda aquela marmelada
Com tão valentes e tão limpas colheradas
E um coitado fora de si
Pelo calor alucinado
Mais dizia que vinha
De um forno de cal naquele estado
E para onde?
Para Alfama dizia o próprio diabo
Mas estando na Guiné
Então por onde queria ir
Apontando o rio de um tamanho tanto
Acudiu que partiria por aquele imenso campo
Tão metido a quente em brasas e chamas
Revira os olhos o tolo no braseiro da mourama
Apertado do mal por acudir
Escalavrado descalço e desfigurado
Lá vai bulindo em danças de febre a tinir
E nunca gato com trambolho nem burrico
Com chocalho ficariam tão contentes
Do que este tolo indo p'ra Alfama de abanico