Não Enxergo Nada

Um dia acordei sem enxergar
Dia e noite se confundiram
As coisas não se discerniram
Anoiteceu o meu pensar


Não enxergando nada
Não sei se entro ou saio
Ensaio da cegueira
Ou cegueira do ensaio


Olhando o meu passado
Vi o quanto estava errado
Cego para o amor e a dor
De quem estava ao meu lado


Não enxergando nada
Não sei se entro ou saio
Ensaio da cegueira
Ou cegueira do ensaio


Tentei descobrir através de outro sentido
Tentei usar a audição ou o tato
Veio a confissão como um recado
Eu sou um ser coisificado!


Não enxergando nada
Não sei se entro ou saio
Ensaio da cegueira
Ou cegueira do ensaio


Não vejo seres humanos
Não vejo pessoas!
Apenas sinto coisas
Só vejo objetos inumanos


Não enxergando nada
Não sei se entro ou saio
Ensaio da cegueira
Ou cegueira do ensaio


O olho funciona perfeitamente
Mas a percepção é fragmentária
Vejo cadeiras vivas em minha frente
E só sinto coisas isoladas!


Não enxergando nada
Não sei se entro ou saio
Ensaio da cegueira
Ou cegueira do ensaio


Não enxerguei minha insensibilidade
Não ouvi os outros falarem da minha indiferença
Não senti o nojo da propriedade
Não cheirei as pessoas para saber de sua ausência


Não enxergando nada
Não sei se entro ou saio
Ensaio da cegueira
Ou cegueira do ensaio


O que os olhos não veem o coração não sente
O que o coração não sente os olhos não veem
Ser humano hoje é um extraordinário presente
As coisas ganham vida própria e provocam a cegueira da mente

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