A morte do artista

Tudo bem? Eu sou aquele de quem tanto tu falas
Quando passo à tua frente na rua não te calas
Aquele que tão bem te parece e logo te apetece
destrocar uma beca, bater bola - caga nisso, esquece
Quase que baixas a cueca e nem sequer me conheces
Só vais levar daqui tudo aquilo que mereces
porque já não há heróis, não há Índios nem cowboys
Muito menos alguém para te tratar dos dóI dóis
Bem vinda ao mundo real, é fudido, não é?
Pois é... nem tudo o que parece é cliché
Dou peidos no sono, às vezes ressono
Nem penses que tou bem montado na cena do abono
A única coisa (aqui) com trinta centímetros é a minha
tattoo
Acredita que gostava mas não posso meter-te a no cu
Eu não parto duas horas, se calhar faço-te vir em dez
minutos
Se ao menos pudéssemos ficar para sempre putos,
Puros sem ideias feitas
Com teorias escorreitas sobre vidas perfeitas
Produções de sonho num enredo enfadonho
De actores de merda num softcore medonho
Trago-te a morte do Artista - a minha ou a tua?
Pensa um bocado quando andas na rua
Tentas dar uma de esperta para cima de mim
Porque já ganhei o jogo muito antes do seu fim

A minha vida, as minhas rimas nas minhas linhas
surgem no caderno onde suo as estopinhas
Queres drama? Eu dou-te o drama...se quiseres faço-te
a cama
e agora é que vais ver como o bebé nana
contador de histórias, revelador de memórias
por vezes inglórias, quase sempre notórias
Sou aluno e professor - nem melhor nem pior
paciente e doutor, com muito ódio e muito amor
não me julgues porque não tens moral para tal
presunção e soberba que só te ficam mal
eu sei do que falo por isso às vezes calo
em vez de cagar sentenças e cantar de galo
a minha vida não é a tua e vice-versa
por isso vamos lá a ver se entendes a conversa
és muito cool, muito ciente, irreverente e consciente
politicamente activo ou será apenas na tua mente?
É fixe ouvir uns discos e pensar que tás lá
Usar roupa desmarcada para chatear o teu papá
Daqui a cinco anos já tás dentro do sistema
Que agora tanto criticas sem sequer teres um real
problema
Freak de Cascais, vai lá fumar mais um pica
Ouvir o Bob Marley pa lhe roubar mais uma dica
Desampara-me a loja, tenho mais que fazer
Tenho outro artista pa matar, lá terá que ser

Agora mato o verdadeiro artista, armado em purista
Apareces em último mas és o primeiro da minha lista
rapper de casa, fechado no teu pequeno mundo
arrebento-te o fusível se levo a cena ao fundo
Ouvi o teu álbum e adormeci antes do final
Descobri um novo rótulo: hip-hop xanax para gente
disfuncional
Não vales a ponta de um corno sem o dicionário
farto dessa merda de vocabulário, vê lá se sais do teu
armário
Não és pesado...não sei quem te disse o contrário
Não fazes ideia do que é um drama diário, seu otário
Refundido num quarto a dares uma de duro
Não acertas em ninguém se dás uma chapada no escuro
Ainda bates na parede e vais ver como elas doem
Quando te encontrar vamos falar de homem para homem
Porque para toda a acção há a consequente reacção
Vou-te enrolar na tua seda e arrebentar mais um
canhão!

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