O Enjeitado II
No fundo, sinto-me apodrecer
Agora sei onde e de quê irei morrer
À beira do Tejo, de suas margens
Macilentas e inclinadas
Nada é mais belo e triste
De existência sublime e lenta
De tarde vagueio p'los prados
E à noite ouço o queixume dos fados
Até romper a madrugada
A vida é imensa tristura
Logo sinto as amarras desse mal
Neles ouvi cantar
De minha tristeza fiz pesar
Nada me consola além da dor
Mais não tenho que este meu fado
P'ra me encher a noite sem amor
Aqui, de nada serve morrer
Onde tudo se perde na volúpia da dor
Antes cidade das cidades
Arrasta o passado no presente
E vê nas ruínas uma glória que mente
Por essa miragem me encantei
Também eu descobri e conquistei
Para afinal, de tudo perder
Em todos os sonhos tudo é dor
Tudo é dor