Um Dedo de Prosa
Tem fumo a chaminé
E no fogão de lenha
Tem café
Tem bolo de fubá
Tem leite no curral pra tirar
E tem fruta no pé
Tem banho de riacho se quiser
Tem vara de pescar
Pra mó do tempo quase parar
Carro de boi range a roda
Viola na mão
Vou dedilhar outra moda
Tem sempre um dedo de prosa
Tangendo o bordão
Pelas veredas do grande sertão
Tem água no cantil
Arreio no cavalo, tem farnel
Tem bota e tem chapéu
Espora pra atiçar o corcel
Na hora de voltar
Tem mesa, prato e copo, tem talher
Tempero de mulher
E muita fome pra saciar
Tem caldeirão, galinhada
E arroz com pequi
E tem conversa fiada
Doce de manga e mangaba
Como eu nunca vi
Da minha terra que eu nunca esqueci
Noite de estrela e fogueira
Cantiga e canção
Causo, catira e congada
Tenho uma vida inteira
Na imaginação
Tanta lembrança no meu coração