Balada do Soldado Morto
Durava mais de seis anos a guerra
E a paz não apareceu
Então o soldado se decidiu
E como herói morreu
Mas como a guerra não terminou
O rei, vendo morto o soldado
Ficou muito triste e pensou assim
Morreu antes do fim
O Sol esquentava o cemitério
E o soldado jazia em paz
Até que uma noite chegou ao front
Um médico militar
Tiraram então o soldado da cova
Ou o que dele sobrou
E médico disse: Tá bom pro serviço
Ainda tem muito pra dar
Saíram levando dali o soldado
Que já apodrecia
Rezavam em seus braços duas freiras
E uma puta vadia
E como soldado cheirava a morte
O padre ia em frente ao andor
Perfumando a cidade com nuvens de incenso
Para encobrir o fedor
A banda ia na frente da profissão
Fazendo: Bum! Bum! Tra! Tra!
Para que o soldado marchasse como no batalhão
Dois enfermeiros erguiam o soldado
Para mantê-lo de pé
Pois, se ele caísse no chão
Virava um monte de lixo
Na frente marchava um homem de fraque
Usando gravata engomada
Bom cidadão consciente de ser
Patriota da pátria amada!
Tambores e gritos de salvação
A mulher, o padre e o cão
O soldado ia morto cambaleando
Um mico de porre dançando
E quando passava pelas cidades
Ninguém enxergava o soldado
E todos entravam na grande marcha
Gritando: Pela pátria lutar!
Agitavam bandeiras esfarrapadas
Para esconder o soldado
Que só podia ser visto de cima
Mas em cima só brilham estrelas
Mas as estrelas não estão sempre lá
E outro dia nasceu
Então, de novo, morreu o soldado
E foi outra vez enterrado