Lousa Nua

Arthur de Faria / Nelson Coelho De Castro

E se meu olho purga e escrevo a palavra merda sobre a lousa nua
E se o meu pensamento acura e assalto a véspera num só golpe com certeira pua
E se a minha sinistra em curva esgana o goto do ancho avaro que à farta a burra estufa
E se antes a minha língua furta de sua língua a láctea crosta de saburra
E se depois de antes uma língua de boca alheia da minha língua liba a cicuta
E se o meu dedo purga o pus da história bufa
E escreve a palavra merda sobre a lousa nua


E se meu outro olho turva quando purga a saliva da lascívia gruta vulva
E se meu medo purga como a chuva agora purga o chorume no lombo da viperina rua
E se purgo nada, abrolho e evoco chongas, nem alcanço o cavo
Nem amordaço a voz que a carne do verbo sutura
E se fico para sempre homem ao promontório, em isenção
No casulo da ausência em algures de parte nenhuma
E se mesmo assim diante de minha vasca derradeira
Lateja o músculo do cu da esfinge puta
Que guilhotina o cedro da palavra muda
E se quando mais também vejo homens empalando homens
E nem afasto o falo da ignorância que duro na espécie adura
E se movo palha alguma para escrever a palavra merda sobre a lousa nua

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