Timbre de galo

Apparício Silva Rilo

Rio Grande, berro de touro,
quatro patas de cavalo.
Quem não viveu este tempo,
vive esse tempo a cantá-lo
e eu canto porque me agrada
neste meu timbre de galo.

É verdade que alguns dizem
que os tempos de hoje são outros,
que o campo é quase a cidade
e os chiripás estão rotos,
que as esporas silenciaram
na carne morta dos potros...

Cada um diz o que pensa -
isso aprendi de infância,
mas nunca esqueça o herege
que as cidades de importância
se ergueram nos alicerces
dos fortins e das estâncias.

Não esqueça, de outra parte,
para honrar a descendência,
que tudo aquilo que muda,
muda só nas aparências
e até num bronze de praça
vive a raiz da querência.

Eu nasci no tempo errado
ou andei muito depressa,
dei ó de casa em tapera,
fiquei devendo promessa
mas se pudesse eu voltava
pra onde o Rio Grande começa.

E se me chamam de grosso,
nem me bate a passarinha.
A argila do mundo novo não
tem a mescla da minha,
sovada a cascos de touro,
com águas de carquejinha...

Rio Grande, berro de touro,
quatro patas de cavalo !
Quem não viveu esse tempo
vive esse tempo ao cantá-lo,
e eu canto porque me agrada
neste meu timbre de galo

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