Sebastiana
Sebastiana era bonita
Sorria sempre pra mim
Pintava os olhos com a noite
E os lábios de carmim
Era filha do Seu Nico
Irmã do Getulio Loco
Ela tinha sempre mais
Do que as outras, tinham pouco
Um dia, num baile bueno
Lhe convidei pra uma dança
E ela, foi a sala toda
Me atirando sua trança
Cabelo negro, comprido
Perfume de flor de abeia
E outra presa com grampo
Feito a Lua, quase cheia
Pensei em casar com ela
Mas faltou fala e coragem
E foi se passando a vida
Que o tempo cruza de viagem!
Eu nunca disse pra ela
Das minha boa intenção
Do bem-quer que morava
No peito deste peão!
Sebastiana sempre soube
Talvez, ficasse esperando
Me aguardava nos bailes
Com a Dona Zé, tricotando
Fez um casaco de lã
E de presente me deu
Lhe comprei panos de chita
Que dois vestidos rendeu
E quantos bailes passaram?
Quanta coisa não se fez
Que pena, a vida não volta
Nem toca o baile outra vez
Soube dela por parentes
Que ficou a me esperar
Não vi que o tempo matreiro
Lhe tirou para dançar
Quarenta anos, depois
Hoje avistei Sebastiana
E percebi que o destino
Não se perde, nem se engana
Tão solita quanto eu
Num ranchinho do povoado
Resignada com o tempo
Que nos deixou no passado